10 março 2014

Conversas ao meio-dia com Erick Orloski, II

Olá leitores do AEOL, meu nome é Erick Orloski e na semana passada iniciei uma série de 03 posts em Conversas ao Meio-Dia. Estou escrevendo sobre minha experiência de 01 ano de estudo e pesquisa em Pamplona, na Espanha, e na semana passada falei um pouco sobre o lado mais acadêmico desta jornada. Se ainda não leu, que tal uma olhadinha?! Clique aqui.

No último post terminei justamente convidando vocês leitores a dar uma olhadinha no Google o que aparece se você procurar sobre Pamplona. Hoje mesmo conferi para ver se tinha alguma mudança, mas o que mais aparece em imagens numa busca aleatória são fotografias de touros correndo pelas ruas, atropelando ou mesmo chifrando homens vestidos de branco de vermelho. Ah, aparece bastante também imagens de mulheres (aparentemente embriagadas), muitas vezes mostrando os seios em meio a muitos homens (também, aparentemente embriagados).

Estas imagens se referem, em princípio, à tradicional festa de San Fermín, pela qual a cidade é internacionalmente conhecida. E a parte da festa mais divulgada globalmente – talvez a única – são os chamados Encierros, onde um grupo de touros é solto em um percurso fechado do centro velho e corre junto à centenas de homens até a Plaza de Toros. Apesar dos Encierros poderem ser obviamente entendidos como uma violência com estes animais, os touros seguem “vivos” e, em princípio, intocados até seu destino. O problema é que no mesmo dia de tarde, estes mesmos touros vão para touradas e aí sabemos bem como termina...

Desde já deixo claro que sou contra touradas ou qualquer outro evento que pratique qualquer tipo de violência contra animais e pessoas, mas como educador e pesquisador, entendo que é sempre importante olhar e buscar entender os fenômenos culturais como coisas sempre complexas e que, mesmo não sendo justificáveis ou aceitáveis, ocorrem por uma razão e isto tem uma história.

Monumento al Encierro, no centro velho de Pamplona. Foto de Christiane Coutinho

Não é o caso aqui de falar sobre a história deste evento, mas queria destacar uma impressão que tive que me chamou muito a atenção. Apesar do destino trágico dos touros (já deixei claro que não sou a favor disto, não é?!) é curioso ver todo um culto ao touro, quase como um animal sagrado. Claro, esta é uma impressão pessoal, mas pessoas que tocam ou batem nos touros durante os Encierros – geralmente estrangeiros, totalmente por fora da cultura local – são vaiados e hostilizados.

Isto me lembrou a importância de, antes de fazer julgamentos, é adequado olhar para uma cultura diferente da nossa tentando vê-la “de dentro”, buscando entender o significado daquilo para quem pertence àquela cultura. Se o fenômeno é aceitável ou não do ponto de vista da ética é uma análise que acredito que deve ser feita, mas nunca separada deste olhar para a cultura do outro, do ponto de vista do outro.

Bem, quem é brasileiro sabe que, ao contrário do que possa parecer numa busca rápida na internet, não vivemos aqui em pleno Carnaval o ano todo, ao som de samba e passistas seminuas 24 horas por dia. Pude notar a mesma coisa em relação à festa de San Fermín, que é sim um grande evento de 9 dias, que reúne milhares de turistas de toda a Espanha e do mundo, o que é muito diferente do cotidiano da pacata Pamplona.

Há sim muitos jovens bebendo até cair e, como em nosso Carnaval ou micaretas, “caçando” parceiros, mas notei que isto é apenas uma parte da festa. Há uma série de atividades e uma programação cultural mista para todos os públicos, sobretudo as famílias e as crianças. Só para dar um exemplo, todas as noites há uma grade queima de fogos de artifício e milhares de pessoas sentam-se num parque chamado de Ciudadela para ver.

Enfim, isto me mostrou que esta festa é muito mais do que os Encierros, que os próprios Encierros não são exatamente o que sempre aparece em jornais e sites e que as culturas da Espanha – que são muitas – são muito mais do que touradas. Afinal, as culturas do Brasil – que também são muitas – também não são muito mais do que Carnaval e futebol?! Mesmo em ano de Copa...

Agora falei de um evento em especial, mas na próxima semana termino esta série sobre uma experiência cotidiana muito especial que vivemos em família: o relacionamento com a escola de educação infantil onde meu filho Heitor estudou.

¡Hasta luego!
Erick Orloski

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3 comentários:

Anônimo disse...

Erick,
Existem movimentos contrários às touradas entre os próprios espanhóis?
Neto

ARTEDUCAÇÃO ONLINE disse...

Neto, obrigada pela questão, vamos repassar ao autor da postagem,
Camila

Anônimo disse...

Uhuuuuuuuuuuuu!