06 setembro 2018

EXPOSIÇÃO "C* É LINDO" FOI ATACADA EM SALVADOR

Tirei um período de férias e estou um pouco atrasado com as notícias de arte e educação, as quais estou tentando colocar em dia.

Polêmica,  contradição e controvérsia fazem parte do universo das artes e tem muita gente que ainda não entendeu isso.

Após críticas pouco fundamentadas a exposição, performance e peça de teatro que todo mundo já sabe, o alvo mais recente foi a exposição "C* é lindo" de Kleper Reis que esteve montada até 12 de agosto no Instituto Goethe de Salvador.

Mesmo com classificação indicativa de 18 anos, foi atacada por conservadores e pessoas que nada entendem de arte.

Fotografia: Mauro Akin Nassor/CORREIO
Disponível em: http://blogs.correio24horas.com.br/mesalte/o-que-eu-vi-na-polemica-exposicao-cu-e-lindo/ 

Como o nome diz - a exposição que ficou fechada durante um dia por conta dos ataques - foi dedicada ao ânus, e ao amor segundo o artista.

É! Estamos vivendo mais um perigoso momento no mundo, o qual, confesso, não imaginei viver, pois histórico e consciência dos males que posturas nefastas provocam são de longe sabidos.

Saiba mais sobre os ataques a essa exposição aqui.

José Minerini

04 setembro 2018

ANA MAE INFORMA: INTERNATIONAL YEARBOOK FOR RESEARCH IN ARTS EDUCATION

Acaba de ser publicado o International Yearbook for Research in Arts Education. Munique e New York: Editora WAXMANN, 2018.

Imagem: https://www.waxmann.com/waxmann-buecher/?tx_p2waxmann_pi2%5Bbuchnr%5D=3797&tx_p2waxmann_pi2%5Baction%5D=show 

Tem quase 500 páginas e seis contribuições da América Latina. 

Duas sobre Música, uma do México - principalmente sobre a formação de professores na Universidade Panamericana - e outra do Brasil de Magali Kleber, um artigo muito bom sobre música nas ONGs brasileiras.

Outro artigo latinoamericano é de Alejandra Orbeta (Chile) que fala de uma pesquisa comparativa entre Chile, Brasil, Argentina e Colômbia. Trata-se de uma pesquisa acerca das políticas públicas e conclui que seguimos os objetivos da UNESCO (2006, 2010). Ela termina dizendo que se de um lado Artes Educação (designação usada no livro) nestes quatro países promove a tradição - especialmente em relação à cultura autóctone e ao artesanato - do outro encoraja a criatividade, a inovação e as mudanças.

Há ainda um magnifico artigo de Gloria Restrepo da Colômbia sobre Artes Educação na construção de uma paz sustentável.

Ela dá  relevância ao contexto: Arte Educação tem que responder  às necessidades do país. Ressalta que precisamos de mais pesquisas para provar a importância social das Artes para reverter os terríveis danos provocados ao ser humano pelas relocações forçadas, desigualdade, insegurança física, violência, luta pela terra, etc.

Por fim temos um artigo muito bom de Camila Malig Jedlicki, participante do Projeto  de Pesquisa MONAES (Monitoring Arts Education Systems) da UNESCO coordenado por Tenis Ildens no Netherlands Center of Expertise for Cultural Education and Amateur Arts, que tinha como objetivo monitorar a agenda de qualidade da Unesco em todos os países membros desta organização.

Aliás, o livro foca principalmente nos resultados desta pesquisa. Na primeira parte da pesquisa - realizada em fevereiro de 2006 - entrevistaram 312 especialistas de 56 países sobre a interpretação individual de cada um acerca da função das Artes Educação e seu envolvimento e compromisso pessoal. Na segunda, se aplicou em maio de 2006 um questionário sobre os objetivos da UNESCO em cada pais: ACESSO, QUALIDADE e RESOLUÇÃO DE DESAFIOS. Foi respondido por 214 arte educadores de 52 países. 

A distribuição dos respondentes foi muito desigual: 
- 72% da Europa e Estados Unidos;
- 21% da Ásia do Pacífico; 
- 6% da África, Estados Árabes e América Latina.

Camila explica que enviou questionário aos membros do CLEA (Consejo Latinoamerincano de Educación por el Arte) e outros especialistas no total de 85 pessoas e só obteve 26 respostas. Pesquisou o número de publicações e o resultado foi:
- Brasil 18%;
- Colômbia 17%;
- Chile 14%;
- Argentina 12%;
- México 11% ;
- 19% do que é publicado na América Latina é de autores de fora da região. 

Camila, inteligentemente mas de forma discreta, aponta nossa dependência cultural em relação á Europa,
mostrando que 36% das editoras que publicam livros e revistas com artigos sobre Artes Educação na América Latina
são estrangeiras,  principalmente de Espanha e Portugal.

Meu artigo publicado nessa edição menciona várias experiências positivas e decoloniais na América Latina. No Brasil o "Tear", o "Daruê Malungo" e o "Projeto Casa Grande", os três com mais de 20 anos.

Uruguai, Taller Barradas e Bienais; Mexico, La Nana isto é CONARTE ;Paraguai , TEIJ; Argentina IMEPA e Rede Cossettini; Guatemala  Musica e Creatorio; Cuba DUPP.

Trata-se de um livro que nos mostra o que acontece em Arte/Educação no mundo.

Ana Mae Barbosa, especial para AEOL.

03 setembro 2018

ROCK SPOTS: MOVIMENTO PERPÉTUO

Algumas bandas, sejam nacionais ou de fora, têm vida curta. Isso não quer dizer que sua contribuição tenha sido menos importante.

Nessa linha, merece ser citada a banda Moto Perpétuo.

Formada em São Paulo na primeira metade da década de 1970, teve em seu line-up, Egydio Conde (guitarras e vocais), Diógenes Burani (bateria), Gerson Tatini (baixo e vocais), Claudio Lucci (violões, violoncelo, guitarras e vocais) e nada mais, nada menos que Guilherme Arantes (teclados e vocais).

Imagens: http://www.celsobarbieri.co.uk/memorias/index.php?option=com_content&view=article&id=494:moto-perpetuo-moto-perpetuo-1974&catid=21&Itemid=66  

O álbum “Moto Perpétuo”, filho único dessa formação, chegou em 1974, pela gravadora Continental Discos e conforme Guilherme relata, seu lançamento foi ofuscado, não só pelo mercado musical da época, como pela estratégia da própria gravadora que, ao mesmo tempo lançava A Barca do Sol (outro grande disco para se falar aqui e se ouvir aqui), com apadrinhamento mais forte. Apesar disso, teve sua estreia ao vivo no Teatro 13 de maio, em São Paulo, atual Café Piu-Piu.

"Moto perpétuo" é acima da média e tem ótimos arranjos, apesar das dificuldades de se gravar um álbum de rock progressivo com a tecnologia que se tinha à disposição em nosso país, àquele momento. Essa defasagem pode ser notada, por exemplo, nas gravações de bateria em todas as faixas, onde o baterista Diógenes inseriu incríveis arranjos, com viradas dignas das melhores bandas da década de 70, porém prejudicadas em seu registro final, sem nitidez e engolida por outros instrumentos.

A bateria de “Verde Vertente” é sensacional, pontuada pelo contra-baixo de Gerson Tatini, inspirado nos timbres de Chris Squire (Yes), sem falar no arranjo dos vocais da música inteira. Podemos citar ainda, a faixa “Mal o Sol” que abre o disco, “Seguir Viagem”, que emociona bastante com violões muito bem tocados e uma letra simples e linda. “Conto Contigo”, “Matinal” e “Turba” são outras pérolas que valem prestar atenção e repetir sua audição.

Confira:



"Moto Perpétuo" é uma estrela perdida nessa imensa constelação do rock nacional e abriu caminho para seu tecladista Guilherme Arantes alçar um voo solo extremamente bem-sucedido na música popular brasileira. Ouça-o contando um pouco dessa história:



Parte da banda (Claudio Lucci, Gerson Tatini e Diógenes Burani) voltaria em 1981 para gravar outro lindo LP sob o nome de "São Quixote", com Mônica Marsola (voz e violões) e participações do próprio Guilherme Arantes.



É isso! Aquilo que é bom se perpetua, em qualquer tempo ou espaço.

Carlos Bermudes, especial para AEOL.