Se você ainda não ouviu e nem assistiu "Boca de lobo" lançado às vésperas do primeiro turno das eleições que nomearam Jair Messias Bolsonaro como o 38º presidente da era republicana do Brasil, é bom saber que se trata de um resumo dos fatos políticos que marcaram a nação brasileira desde as manifestações iniciadas em junho de 2013.
Estão presentes em "Boca de lobo":
- bate panela em varanda gourmet;
- incêndio em prédio ocupado no Largo do Paissandú/SP, em museus e em reservas indígenas;
- prisão de Rafael Braga acusado de portar produto para fazer coquetel molotov;
- escândalo das merendas em São Paulo;
- explosão na Praça da Sé;
- doenças em presídios;
- direitos humanos;
- perseguição e prisão duvidosa de negros, indígenas e mestiços;
- ração humana de Dória;
- elogio à diversidade da cultura brasileira;
- poder das redes sociais;
- recatada e do lar;
- fake news;
- pós-verdades;
- PEC 55 - Proposta de Emenda Constitucional sobre o teto dos gastos públicos, aprovada em dezembro de 2016, que congelou os gastos com educação e saúde até 2036;
- destaque para o alto nível de estudantes da escola pública no Ceará;
- guerra dos tráficos;
- aforismos: textos curtos com sentenças ou princípios práticos/morais;
- alusão à paz em culturas e religiões afro/brasileiras;
- hipocrisia social;
- crítica à hegemonia cultural;
- tucano caça helicóptero que pulveriza pó branco (cocaína) sobre as pessoas;
- políticos presos;
- cobra grande corre por todos os lados;
- carteira escolar pega fogo como alusão às ocupações escolares contra o fechamento de escolas públicas e os descasos com a educação;
- Petrobrás;
- Albert Camus e Dalai Lama são citados;
- porco chafurda na lama que devastou Bento Rodrigues na cidade de Mariana/MG;
- Janaína Pascoal roda a bandeira no centro da cidade e São Paulo;
- evangélico bate na bíblia;
- Marielle Franco em seu vestido florido;
- La la land não é aqui;
- crítica ao SUS;
- novo herói da Disney virá da Cracolândia;
- dinheiro na cueca;
- dinheiro no apartamento de Geddel Vieira;
- morcego alude ao "presidente temeroso" e sobrevoa o Congresso Nacional.
Pois é! Boca de lobo leva para o esgoto. Confira:
Tem muito mais. Acesse aqui a análise da galera do "Pensado nisso".
É, caros amigos, nem só de Europa e de Tio Sam vive o Rock Progressivo.
Yes, nós temos Prog!
Para representar essa vertente verde e amarela do nosso Rock and Roll, escolhi uma banda que me conquistou desde a primeira audição, com uma pegada forte e marcas bem nacionais: O Terço!
A formação clássica de “O Terço” em 1974:
Flavio Venturini, Luiz Moreno, Sergio Hinds e Sergio Magrão.
Foto: murodoclassicrock4.blogspot.com.br
O início
O Terço teve início em 1968, no Rio de Janeiro com Jorge Amiden na guitarra, Sergio Hinds no baixo e Vinícius Cantuária, na bateria. Nessa fase embrionária, influências do Rock da década de 1950, Folk Rock, música erudita e hard rock inglês já eram notadas em seus primeiros discos e até chegaram a defender algumas canções em edições do FIC (Festival Internacional da Canção), com a música “Tributo ao Sorriso”, por exemplo.
Em 1972, Jorge Amiden sai da banda e a nova formação passa a contar com Sergio Hinds nas guitarras, Cezar de Mercês no baixo e Vinícius Cantuária na bateria. Nessa época, gravam o disco “O Terço”, se aproximando bastante do Rock Progressivo que se fazia na Inglaterra (ouça abaixo “Amanhecer Total”). Após esse álbum, Vinícius Cantuária e Cezar de Mercês deixariam a banda e uma nova fase estava por começar.
Discoteca básica do Rock Brazuca
Em 1975, o Terço era: Sergio Hinds (guitarras), Sergio Magrão (baixo), Luiz Moreno (bateria) e ninguém menos que Flavio Venturini (teclados), inaugurando aquela que seria a melhor fase da banda.
O terceiro disco do Terço, “Criaturas da Noite”, foi lançado em 1975, com capa de Antonio e André Peticov e canções com arranjos orquestrais de Rogerio Duprat (considerado por eles, o “George Martin” da banda), Rock Progressivo e principalmente Rock Rural, com uma temática voltada para o campo, ora psicodélica, ora mais pé no chão. Faixas instrumentais também completam o disco, como a suíte “1974” e “Ponto Final”.
Capa do disco “Criaturas da Noite” / Foto: osomdovinil.org
No ano de 1976, chegava às lojas o disco “Casa Encantada”, seguindo o estilo do anterior, porém mais folk, mais rural e progressivo. Faixas lindíssimas, como “Sentinela do Abismo”, “Pássaro” e “Casa Encantada” dão vontade de entrar no carro e pegar a primeira estrada para qualquer lugar fora da cidade. Isso sem falar nas faixas “Solaris” e “Guitarras”, com um selo de alta qualidade sem dever nada para as grandes bandas de Prog inglesas. Nesse álbum, O Terço teve contribuições de Rogerio Duprat nos arranjos de cordas e Sá e Guarabyra, Marcio Borges, Cezar de Mercês nas composições. Esses dois álbuns, Criaturas da Noite e Casa Encantada, são considerados discoteca básica para qualquer um que aprecie MPB e Rock and Roll, verdadeiras obras-primas da nossa música brasileira.
Capa do disco “Casa Encantada” / Foto: progbrasil.com.br
O Terço continuou seguindo sua estrada, e em 1978 lançaram “Mudança de Tempo”, um disco mais voltado para a MPB (ouça “Gente do Interior”) e ao mesmo tempo, mais diversificado, ainda com influências de Prog Rock e Blues.
Esse foi o quinto disco da banda, já sem o tecladista Flavio Venturini que posteriormente iria formar junto com Sergio Magrão, o maravilhoso 14 BIS... Mas esse papo fica para um outro café!
A viagem continua
O Terço viria a lançar outros discos, com novos músicos, outras formações, e está vivo até hoje em sua formação original, exceto pelo baterista Luiz Moreno que nos deixou em 2002.
Em 2005, a banda decide retornar e grava um disco e um DVD ao vivo no Canecão - RJ, pela Som Livre, com o grande baterista Sergio Mello e participações de Irinéa Ribeiro, esposa de Luiz Moreno e Marcus Vianna, no violino.
O trabalho mais recente da banda se chama “O Terço 3D”, um revival de seus clássicos, lançado em 2015, com o baterista Fred Barley, também em DVD com tecnologia 3D.
O Terço hoje: Sergio Hinds, Fred Barley, Cezar de Mercês,
Sergio Magrão e Flavio Venturini / Foto: jornalcasadagente.blogspot.com
A banda é referência nesse estilo de Rock tanto aqui, como lá fora e segue com shows esporádicos em algumas casas de show e SESCs pelo Brasil.
Quando souber de um show desses, não perca!
Curiosidades:
O disco “Casa Encantada”, leva esse nome por ter em sua maioria, composições criadas em uma fazenda de São Paulo, onde o grupo morou por um tempo.
O Terço foi a banda que tocou em várias faixas do excelente disco “Vento Sul” de Marcos Valle (1972), e no disco “Nunca” de Sá e Guarabyra (1974).
Em 1971, Jorge Amiden idealiza uma guitarra de três braços (tritarra), a qual lhe possibilitaria extrair novos timbres sem a necessidade de se trocar de instrumento durante as apresentações.
Em 1977, O Terço e Os Mutantes realizam um tributo aos Beatles, com shows em conjunto no Rio de Janeiro e São Paulo.
Sequer sei se o nome do músico é mesmo Bulat Nurimov (ou Bula) porque não leio nada em alfabeto sirílico, muito menos adaptado, caso do quirguiz cantado pelo artista.
Como sei disso? Traudutor Google.
Além de uma batida eletrônica marcante com trecho incidental à la Miami Bass (o mesmo que está na base do funk carioca) só sei que encontrei muitos vídeos no youtube com gente das mais diversas faixas etárias dançando "Zin, zin, zin", ou "Mexe, mexe, mexe" em tradução irresponsável minha.
Interessou? Tomara que não tenha ofensa a nada e nem a ninguém:
Sensação na música pop, Camila Cabelllo é cantora norte-americana de origem cubana. Ainda não ouviu? O clipe é longo e meio bobinho, por isso optei em postar apenas a música. Dá play:
Demorou para o atual revival dos anos 1990 destacar algo do universo heroin chic na música pop.
A mistura entre emocore e rap à base do perigosíssimo uso de opióides e remédios tarja preta vem demontrando o espírito destrutivo e violento da geração millenium. São garotos em geral com o rosto tatuado que cantam as emoções e decepções do universo teenager no começo do século XXI.
Confira, mas antes ATENÇÃO: alguns clipes contém palavrões, imagens erotizadas e violentas.
Lil Peep
Imagem: Instagram do artista/http://www.nydailynews.com/entertainment/music/rapper-lil-peep-died-powerful-fentanyl-xanax-overdose-article-1.3686651
Imagem: Michael Zorn/Invision via AP/http://www.tulsaworld.com/scene/music/lil-uzi-vert-schedules-show-at-cain-s-ballroom/article_bfdff327-2008-576f-bdaa-27a3413cc5ee.html
Pelo visto mais uma vez a indústria cultural explora e estetiza as drogas, leva milhares de adolescentes ao vício e depois os abandona pelo mundo. Alias, Lil (leia-se Little) Peep - o primeiro artista desse post - faleceu ano passado no camarim antes de iniciar um show, vítima do consumo explosivo de opióides.
Aquela ideia defendida na já longínqua contracultura da década de 1960 de que a droga era uma experiência de transcendência espiritual e libertação da mente é coisa do passado. É mercado que vicia com vistas ao lucro, mesmo que se pague com sofrimento e a própria vida.
Lil Uzi Vert - o último artista desse post - concorre ao Grammy 2018 como artista revelação.
Os cinco
primeiros anos da década de 1970 foram marcados por discos icônicos de Rock, Pop e Folk, tanto na Inglaterra como nos EUA, berços de bandas fundamentais em todas as
vertentes do Rock and Roll.
Março de 1973: The Dark Side of
the Moon (TDSotM)era lançado.
O ápice da
banda inglesa Pink Floyd, formada em 1965, veio com o álbum “The Dark Side of
the Moon”, lançado em março de 1973. Os caras já vinham de discos bons, tanto
na década de 1960 em sua fase mais psicodélica, como na entrada dos anos 1970, com
Atom Heart Mother e Meedle. Mas nada perto do brilho, qualidade e profundidade
de TDSotM. Desde 1971, a banda já trazia em suas turnês, números instrumentais
que se tornariam o disco retratado aqui.
“TDSotM era uma expressão de empatia
política, filosófica,
humanitária que estava louca para sair”.
Roger Waters
Waters reflete
sobre a existência humana e escreve sobre temas ainda relevantes hoje em dia,
como cobiça, morte, vida, dinheiro, pressão, rotina, loucura, tempo, dor, e é
nessa vibe que nasce um dos primeiros discos conceituais do Rock (Progressivo).
Além do teor altamente reflexivo
das letras de Waters, o álbum é fruto de um verdadeiro trabalho em equipe,
reunindo o melhor de cada músico em técnica, criatividade e capacidade
artística. Um trabalho minucioso feito sem a tecnologia que vemos hoje, manualmente,
sem automações ou efeitos digitais, quase artesanal que também contou com a
habilidade dos Engenheiros de som Alan Parsons e Chris Thomas, sem deixar de fora
a capa emblemática criada pelo estúdio Hipgnosis, de Storm Thorgerson (autor de
tantas outras capas clássicas do Rock).
Capa do álbum "The Dark Side of the Moon", design de Storm Thorgerson/Estúdio Hipgnosis
Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Dark_Side_of_the_Moon#/media/File:Dark_Side_of_the_Moon.png
Loops, efeitos sonoros,
experimentos eletrônicos, sintetizadores, sequenciadores, relógios, gravadores
multi-track, maravilhosos vocais femininos, além da tríade guitarra, baixo e
bateria, trazem à tona faixas instrumentais, futuristas, espaciais, pesadas,
etéreas, leves, progressivas. Coloque seus fones de ouvido,
deite e ouça “The great gig in the sky” e deixe-a levar seus pensamentos para
algum lugar fora do chão, ou reserve 45 minutos do seu tempo para uma
experiência completa, dramática, mágica. Entre e saia do outro lado do prisma.
TDSotM fala sobre pessoas e toca
em nossos conflitos, valores, impasses, dubiedades e deixa no ar, sob as
palavras de Waters, a questão: “A raça humana é capaz de ser humana?”
Números e curiosidades:
- O álbum vendeu mais de 40
milhões de cópias ao redor do mundo, um dos mais vendidos até hoje;
- Quase 600 semanas na lista dos
mais vendidos da Billboard e mais de 700 semanas entre os 200 discos mais
vendidos do mundo;
- Ainda hoje, vende mais de 250
mil exemplares a cada ano.
- Assista “Zabriskie Point”, de
Michelangelo Antonioni (1970), trilha sonora dePink Floyd, e ouça o embrião de “Us and Them” feita para uma
sequência caótica e violenta do filme;
- Foram apresentadas à banda
várias versões para a capa e ao baterem os olhos no “Prisma”, esta foi eleita
por unanimidade;
- Clare Torry, voz de “The great
gig in the sky”, foi gravada em um só take e ao acabar de cantá-la, pediu
desculpas, pois achou que não tinha ficado muito bom;
- Ouça TDotM, junto com “O Mágico
de Oz”. Embora este mito seja negado pela banda, há uma incrível sincronia das
letras e áudio visual entre as duas obras;
- As vozes em off que permeiam
todo o disco foram tiradas de perguntas criadas por Roger Waters e entregues em
pedaços de papel a várias pessoas que andavam pelo estúdio, artistas,
empregados. Perguntas como “Qual a última vez que você foi violento?” eram
respondidas, gravadas e posteriormente inseridas em determinados trechos do
disco. No final, a voz que se ouve é de Gerry O’Driscoll, zelador dos estúdios
de Abbey Road, respondendo à pergunta: "What
is 'the dark side of the moon'?" com: "There is no dark side of the moon, really. Matter of fact, it's
all dark. The only thing that makes it look light is the sun."
Bibliografia: HARRIS, John. The Dark Side of the Moon: os
bastidores da obra-prima do Pink Floyd. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. The Dark Side of the Moon (DVD). São Paulo: ST2 video; Eagle Rock Entertainment, 2002.
O disco (todas as faixas):
Dark Side Of
The Rainbow:
Zabriskie Point, o filme (legendas em espanhol):
Carlos Bermudes, especial para AEOL
P.S.: Não entendeu porgue polenghi está no título desse post? Clique aqui.
O último videoclipe de Björk - The Gate - foi lançado em 20 de setembro desse ano e até agora tem pouco mais de 750 mil views no youtube.
Isso em nada representa a grandiosidade do trabalho da artista, que conta neste vídeo com figurino desenhado pelo estilista da Gucci Alessandro Micheli que consumiu quase dois meses trabalho, mais precisamente, 550 horas para confeccionar e 320 para bordar pérolas e pedraria.
Ainda não assistiu The Gate até o final? Aproveita e assiste agora:
Que tal? Essa música faz parte do novo álbum da artista, prometido para ser lançado daqui duas semanas.
Macacos foram encontrados mortos pela febre amarela na Zona Norte de São Paulo e tem gente falando que vai matá-los para evitar contaminação. Quem contamina é mosquito e não o indefeso bichinho.
Uso um clipe do alemão Peter Fox para alertar que respeito à vida é fundamental: NÃO MATEM NOSSOS MACACOS!
Afirmo sem receio algum que a música popular brasileira é dominada por vozes femininas, tanto que é hábito no jornalismo cultural apresentar a cada ano que se inicia uma lista com promessas de mulheres a se destacar na MPB.
São tantas que teria que escrever um compêndio só para isso. Mas, enquanto não tenho coragem para tanto (mesmo porque sou mero ouvinte - embora atento - sem pretenção de tornar-me historiador da música), compartilho aqui breve análise sobre um fenômeno atual: as cantoras de sofrência.
Música de corno que sofre é tradição no meio sertanejo, no qual homens lamentam traições e perdas de mulheres amadas (ou desejadas). Ouça um clássico dos cornos:
Enquanto eles choravam a traição no Fuscão Preto amaldiçoando o ronco do motor Wolkswagen, elas mantinham-se fiéis aos ideais românticos, do encontro com o amor eterno. Este é o caso de músicas compostas e gravadas pela bem-humorada Roberta Miranda.
Ela falou em destino? Que nada! Vingança tarda mas não falha.
As mulheres da sofrência respondem de outro modo. Feminismo? Talvez! Fato é que elas estão empoderadas e dão o troco sem pestanejar.
As músicas abaixo vêm sendo ouvidas à exaustão já faz algum tempo. Todas se apropriam do discurso do cornudo traído e não deixam nada passar incólume. Dê play nos vídeos abaixo e preste atenção no que elas elas cantam.
A fila anda. Enquanto cê tá indo eu tô voltando!
Suas malas estão na porta, infiel!
Pega esses R$50,00 e aproveita. Deixa que eu te ajudo a pagar a conta do motel!
A lição das cachorras do funk chegou ostentando na sofrência:
Sorte sua que cê beija bem. Se não fosse isso eu não voltava, não!
Você se envolveu com uma amiga minha e quero os dois na rua agora!
Não gostou? Fala com meu advogado:
Incompetente! Você não foi capaz de me fazer feliz!
Te dei tudo e você se iludiu com essa "bandida". Fica com ela então, porque eu vou ficar com outro!
Eitaaaaaaa! Acaba não mundão!!!
Car@ leit@r, busque na internet músicas e vídeos de sofrência e encontrarás muito mais com elas. Foi-se o tempo em que homens choravam por um um fio de cabelo no paletó. Não é Chitão, não é Xororó?
Sofre sim rapaz, porque a mulherada está no poder. Xororô sofrido, né!
Tomara que o universo machista continue a se desmantelar e que outras possibilidades não binárias macho/fêmea se revelem não só na música sertaneja mas em todo e qualquer outro contexto.
Voltando ao início desse texto, Roberta Miranda é tão inteligente que recebeu Marília Mendonça em um de seus shows e reconheceu que os tempos mudaram. A fila andou, e desandou. Bom pra todo mundo!
Coragem, migo, coragem! Assista a um show com várias delas juntas e... seguuuuuuura esse estrogênio peão! Se for capaz, claro!
Se você é daquel@s que adora falar que odeia funk carioca, é melhor ficar longe das festas e pistas de dança que estão tocando há mais de mês "Despacito", afinal, trata-se de um gênero musical portoriquenho chamado reggaeton ou dancehall tão popular, sexualizado e vulgar quanto o nosso funk.
Ouça mais uma vez "Despacito", já comparado por alguns críticos a "La Bamba", sucesso mexicano de 1958 há décadas imortalizado.
Tem mais. Veja "as mina" dançando reggaeton até o chão (R.I.P. J Capri):
Não curtiu? Tenta mais uma vez com a moçada de "La Nueva Scuela":
Ainda não rolou você "curtí" essa parada dancehall aí?
Sobrou de novo para Anitta resolver nas quebradas daqui e nos morros dalí essa parada e polemizar sobre. Estratégia de marketing? Pode ser, mas que está rolando, está!
Há festas reggaeton/dancehall acontecendo em casas badaladas Brasil adentro, ofuscando a tentativa do povo fashinista de reviver a cena cubber que remixa os idos noventistas. Se a imagem de moda clubber pega aos poucos, a música não.
A ex-funkeira e atual top pop brasileira que muita gente adora destestar fez o que devia fazer: "Sim ou não"!
Graçãs a isso, mais uma vez ouvimos a sonoridade dos substratos socioculturais brasileños y latinoamericanos gritando em uníssono, o que é ótimo.
Chic@s, que tal? Libertad aunque tardía.
Confira o dancehall do reggaeton libetário no show da poderosa dizendo sim ou não pro bonde passar. Participação do colombiano Maluma:
Você ainda não se convenceu que esse tal de reggaeton lacra geral? Dá uma paradinha:
Não é fácil dormir com um barulho desses que insite em dançar em nossos halls, reais ou virtuais. Ou tentando entrar em nossas varandas gourmets.
Respeitemos Anitta, cantora bem produzida pela indústria cultural que respeita as ousadias musicais e sociais das alas que Chiquinha Gonzaga abriou cortando jaca; da música de Dalva de Oliveira cantando os "verde zóio"de Kalu; de Elza Soares cantando sua bossa negra que vai do cóccix até o pescoço para quaisquer Marias, mulheres do fim do mundo que carregam latas d'água na cabeça e passam fome; ou das pernas abertas de Gal Costa na capa do disco Índia; quiçá as vampirizações de Vange Leonel; Daniela Mercury mixando eletronicamente axé no trio elétrico; Pitty e seu rock sofisticado herdado de Raulzitos, Marcelos Novas e xibombombons d'As Meninas; ou de Deise Tigrona na voz da negra cachorra favelada da comunidade que nunca esteve na moda como a feia Tati Quebra-barraco, que teve um filho assassinado na Cidade de Deus,... .
São tantas histórias, tantas mulheres, tantas músicas importantes que muitos ouvem mas nada escutam. O que nos resta? Pense aí que penso aqui!
Em tempo: Há iniciativas querendo criminalizar a música funk. Como menosprezar essa relevante riqueza cultural da música popular brasileira que dá voz aos oprimidos?
Não basta o que se fez com o samba e com as músicas afrobrasileiras de terreiro no passado?
José Minerini
Observação: Esse texto usa gírias e jargões de culturas periféricos e de comunidades marginais pelo ponto de vista de um paulista, reconhecendo suas importâncias na cultura brasileira.