Para fechar esta microssérie de posts sobre minhas experiências na
Espanha, em 2013, como anunciei antes aqui no blog, falarei sobre a ótima experiência que
tivemos com a escola de educação infantil onde meu filho Heitor (com 04 anos na
época) estudou.
Como seria 01 ano lá e aqui ele já frequentava a escola, já tínhamos a
intenção de matriculá-lo e depois soubemos que, como viajávamos legalmente, éramos obrigados a fazer isto. Nosso receio era por conta da língua, que mesmo muito
próxima da nossa, ele não conhecia nada.
Várias opiniões que ouvimos, de educadores e amigos, diziam que ele se
adaptaria com muito mais facilidade que nós adultos. Dito e feito: por ter
várias horas de convívio diário com outras crianças na escola, ele voltou com
mais domínio do espanhol do que eu e minha esposa.
Pesquisamos as escolas da cidade de Pamplona antes pela internet e
descobrimos que – para nossa satisfação – a maioria era de escolas públicas, gratuitas, em tempo integral e que poderíamos matriculá-lo em uma
delas. A partir de nossa pesquisa e por recomendação de meu orientador na
universidade de lá, o Prof. Imanol Aguirre Arriaga, fizemos uma pré-escolha e
agendamos uma visita no Colegio San Juan
de La Cadena.
A conversa foi agendada com a diretora, que nos explicou coisas mais
burocráticas e na sequência fomos visitar a sala e turma em que ele ficaria. A
professora e as crianças não sabiam desta visita e tivemos a primeira agradável
surpresa: fomos recebidos de braços abertos. A professora interrompeu sua
atividade e conversou conosco junto dos pequenos estudantes, que já ficaram
muito curiosos com o novo coleguinha.
Poderia aqui falar muitas coisas sobre a proposta pedagógica da escola,
mas posso resumir que pude comprovar ser uma educação de qualidade, digo como
pai e educador. Claro que estou falando a partir da experiência com esta
escola, reconhecidamente uma das melhores escolas públicas de Pamplona, mas o
ponto que mais nos chamou a atenção foi das escolas de lá (em geral) como
espaços abertos à comunidade.
Todos os dias, no horário da saída (16h50), os portões da escola eram
abertos para os pais aguardarem as crianças dentro da escola. Com a saída das
crianças, achávamos que todos logo iriam embora, como fazemos aqui. Mas não:
todos os pais traziam lanches para seus filhos, que comiam e permaneciam ali
brincando por mais 30 minutos ou até 1h nas sextas-feiras, enquanto pais
conversavam entre si.
Colegio
San Juan de La Cadena, Pamplona/Espanha. Foto: Christiane Coutinho
Era muito bonito ver este momento de educação informal, tanto para as
crianças, como para os pais, propiciado pelo próprio espaço da escola, que
mantinha seus portões abertos até todos saírem. Claro que isto tem tudo a ver
com a realidade da cidade, onde estes pais não gastaram mais que 20 minutos
para chegar de qualquer ponto da cidade até ali e depois também podem ir a pé
para suas casas (em segurança) também em poucos minutos.
Sabemos que existem algumas experiências em escolas brasileiras e
paulistanas tão boas quanto estas, mas também sabemos que infelizmente é
exceção e não a regra. Sabemos que isto é fruto nosso do contexto social e
econômico, fruto de nossa história. Mas será que existe uma forma de criarmos estes “espaços de experiência” em nossas escolas, apesar de todos os
nossos apesares?
Fecho esta série de posts com esta reflexão, sem repostas e muita
vontade de pensar junto e buscar alternativas.
“¡Saludos a todos y adiós!” Ou seria outro “¡hasta
luego!”?!
Erick Orloski
4 comentários:
Me encanta Heitor!!!
Conheci um pouco da Espanha, minha amiga em Madrid não teve a mesma experiência com a escola de lá, me contou coisas ruins até, eu perguntei, mas como, eles não leram o Larrosa? Ela me disse: nem conhecem, se conhecem não aplicam, ele é da Catalunha...
A Espanha tem dessas coisas, são muitas Espanhas...
Também me disse que o País Basco é realmente onde estão algumas das melhores escolas da Espanha...
Adorei ler suas conversas Erick!
Hasta Luego!
Val
Valeria, obrigada por participar!
Valéria, existem muitas Espanhas assim como exitem muitos Brasil. Quem no Brasil aplica em sala de aula o ensino contemporâneo da arte? Nada disso me surpreeende.
Neto
Neto e Valéria, obrigada por suas participações!
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