Olá leitores do AEOL, meu nome é Erick Orloski e na semana passada
iniciei uma série de 03 posts em Conversas
ao Meio-Dia. Estou escrevendo sobre minha experiência de 01 ano de estudo e
pesquisa em Pamplona, na Espanha, e na semana passada falei um pouco sobre o
lado mais acadêmico desta jornada. Se ainda não leu, que tal uma olhadinha?! Clique aqui.
No último post terminei justamente convidando vocês leitores a dar uma olhadinha no
Google o que aparece se você procurar sobre Pamplona. Hoje mesmo conferi para ver
se tinha alguma mudança, mas o que mais aparece em imagens numa busca aleatória
são fotografias de touros correndo pelas ruas, atropelando ou mesmo chifrando
homens vestidos de branco de vermelho. Ah, aparece bastante também imagens de
mulheres (aparentemente embriagadas), muitas vezes mostrando os seios em meio a
muitos homens (também, aparentemente embriagados).
Estas imagens se referem, em princípio, à tradicional festa de San
Fermín, pela qual a cidade é internacionalmente conhecida. E a parte da festa
mais divulgada globalmente – talvez a única – são os chamados Encierros, onde um grupo de touros é
solto em um percurso fechado do centro velho e corre junto à centenas de homens
até a Plaza de Toros. Apesar dos Encierros poderem ser obviamente
entendidos como uma violência com estes animais, os touros seguem “vivos” e, em
princípio, intocados até seu destino. O problema é que no mesmo dia de
tarde, estes mesmos touros vão para touradas e aí sabemos bem como termina...
Desde já deixo claro que sou contra touradas ou qualquer outro evento
que pratique qualquer tipo de violência contra animais e pessoas, mas como
educador e pesquisador, entendo que é sempre importante olhar e buscar entender
os fenômenos culturais como coisas sempre complexas e que, mesmo não sendo
justificáveis ou aceitáveis, ocorrem por uma razão e isto tem uma
história.
Monumento al Encierro, no centro velho de Pamplona. Foto de Christiane
Coutinho
Não é o caso aqui de falar sobre a história deste evento, mas queria
destacar uma impressão que tive que me chamou muito a atenção. Apesar do
destino trágico dos touros (já deixei claro que não sou a favor disto, não é?!)
é curioso ver todo um culto ao touro, quase como um animal sagrado. Claro, esta
é uma impressão pessoal, mas pessoas que tocam ou batem nos touros durante os Encierros – geralmente estrangeiros,
totalmente por fora da cultura local – são vaiados e hostilizados.
Isto me lembrou a importância de, antes de fazer julgamentos, é adequado
olhar para uma cultura diferente da nossa tentando vê-la “de dentro”, buscando
entender o significado daquilo para quem pertence àquela cultura. Se o fenômeno
é aceitável ou não do ponto de vista da ética é uma análise que acredito que
deve ser feita, mas nunca separada deste olhar para a cultura do outro, do
ponto de vista do outro.
Bem, quem é brasileiro sabe que, ao contrário do que possa parecer numa
busca rápida na internet, não vivemos aqui em pleno Carnaval o ano todo, ao som
de samba e passistas seminuas 24 horas por dia. Pude notar a mesma coisa em
relação à festa de San Fermín, que é
sim um grande evento de 9 dias, que reúne milhares de turistas de toda a
Espanha e do mundo, o que é muito diferente do cotidiano da pacata Pamplona.
Há sim muitos jovens bebendo até cair e, como em nosso Carnaval ou
micaretas, “caçando” parceiros, mas notei que isto é apenas uma parte da festa.
Há uma série de atividades e uma programação cultural mista para todos os
públicos, sobretudo as famílias e as crianças. Só para dar um exemplo, todas as
noites há uma grade queima de fogos de artifício e milhares de pessoas
sentam-se num parque chamado de Ciudadela
para ver.
Enfim, isto me mostrou que esta festa é muito mais do que os Encierros, que os próprios Encierros não são exatamente o que sempre
aparece em jornais e sites e que as culturas da Espanha – que são muitas – são
muito mais do que touradas. Afinal, as culturas do Brasil – que também são
muitas – também não são muito mais do que Carnaval e futebol?! Mesmo em ano de
Copa...
Agora falei de um evento em especial, mas na próxima semana termino esta
série sobre uma experiência cotidiana muito especial que vivemos em família: o
relacionamento com a escola de educação infantil onde meu filho Heitor estudou.
¡Hasta luego!
Erick Orloski
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3 comentários:
Erick,
Existem movimentos contrários às touradas entre os próprios espanhóis?
Neto
Neto, obrigada pela questão, vamos repassar ao autor da postagem,
Camila
Uhuuuuuuuuuuuu!
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