17 julho 2017

REGGAETON É O NOVO RITMO QUE AMAMOS ODIAR

Se você é daquel@s que adora falar que odeia funk carioca, é melhor ficar longe das festas e pistas de dança que estão tocando há mais de mês "Despacito", afinal, trata-se de um gênero musical portoriquenho chamado reggaeton ou dancehall tão popular, sexualizado e vulgar quanto o nosso funk.

Ouça mais uma vez "Despacito", já comparado por alguns críticos a "La Bamba", sucesso mexicano de 1958 há décadas imortalizado.



Tem mais. Veja "as mina" dançando reggaeton até o chão (R.I.P. J Capri):


Não curtiu? Tenta mais uma vez com a moçada de "La Nueva Scuela":


Ainda não rolou você "curtí" essa parada dancehall aí?

Sobrou de novo para Anitta resolver nas quebradas daqui e nos morros dalí essa parada e polemizar sobre. Estratégia de marketing? Pode ser, mas que está rolando, está!

Há festas reggaeton/dancehall acontecendo em casas badaladas Brasil adentro, ofuscando a tentativa do povo fashinista de reviver a cena cubber que remixa os idos noventistas. Se a imagem de moda clubber pega aos poucos, a música não.

A ex-funkeira e atual top pop brasileira que muita gente adora destestar fez o que devia fazer: "Sim ou não"!

Graçãs a isso, mais uma vez ouvimos a sonoridade dos substratos socioculturais brasileños y latinoamericanos gritando em uníssono, o que é ótimo.
Chic@s, que tal? Libertad aunque tardía.

Confira o dancehall do reggaeton libetário no show da poderosa dizendo sim ou não pro bonde passar. Participação do colombiano Maluma:



Você ainda não se convenceu que esse tal de reggaeton lacra geral? Dá uma paradinha:


Não é fácil dormir com um barulho desses que insite em dançar em nossos halls, reais ou virtuais. Ou tentando entrar em nossas varandas gourmets.

Respeitemos Anitta, cantora bem produzida pela indústria cultural que respeita as ousadias musicais e sociais das alas que Chiquinha Gonzaga abriou cortando jaca; da música de Dalva de Oliveira cantando os "verde zóio"de Kalu; de Elza Soares cantando sua bossa negra que vai do cóccix até o pescoço para quaisquer Marias, mulheres do fim do mundo que carregam latas d'água na cabeça e passam fome; ou das pernas abertas de Gal Costa na capa do disco Índia;  quiçá as vampirizações de Vange Leonel; Daniela Mercury mixando eletronicamente axé no trio elétrico; Pitty e seu rock sofisticado herdado de Raulzitos, Marcelos Novas e xibombombons d'As Meninas; ou de Deise Tigrona na voz da negra cachorra favelada da comunidade que nunca esteve na moda como a feia Tati Quebra-barraco, que teve um filho assassinado na Cidade de Deus,... .

São tantas histórias, tantas mulheres, tantas músicas importantes que muitos ouvem mas nada escutam. O que nos resta? Pense aí que penso aqui!

Em tempo: Há iniciativas querendo criminalizar a música funk. Como menosprezar essa relevante riqueza cultural da música popular brasileira que dá voz aos oprimidos?

Não basta o que se fez com o samba e com as músicas afrobrasileiras de terreiro no passado?

José Minerini

Observação: Esse texto usa gírias e jargões de culturas periféricos e de comunidades marginais pelo ponto de vista de um paulista, reconhecendo suas importâncias na cultura brasileira.

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