Olá. Meu nome é Valéria Alencar. Trabalho,
estudo, pesquiso, respiro mediação cultural. Sou colaboradora do coletivo
Arteducação Produções desde 2001. Atualmente, estou morando em Londres, serão
12 meses de experiência até agosto para complementar minha pesquisa de
doutorado, claro, sobre Mediação Cultural que faço no Instituto de Artes da UNESP, com a orientação da professora Rejane Coutinho. Minha pesquisa trata da
utilização das imagens em museus e exposições históricas.
Assim como o Erick Orloski escreveu aqui, possuo bolsa de doutorado sanduíche pela CAPES. Meu tutor aqui em Londres é o
professor Dennis Atkinson, contudo não tenho uma relação com a universidade,
pois a minha pesquisa acontece nos museus. Inicialmente intencionava fazer
minha pesquisa no British Museum, mas mudanças de planos aconteceram,
especialmente por conta do British ser um, como denominei, um museu de coisas,
sim, tem muita História lá, mas optei por outro local, o Museu de Londres.
Assim minhas idas ao British Museum trazem um outro viés para minha formação
acadêmica e outras reflexões para a minha pesquisa.
Cheguei em Londres com a minha filha Helena de
nove anos, em agosto de 2013, uma mudança e tanto em nossas vidas. Poderia
escrever e falar sobre tantas experiências e sobre a minha pesquisa por dias,
mas não será esta a proposta aqui. Quando fui convidada a escrever na AEOL
fiquei imaginando qual seria o assunto dentre tantos possíveis. Então, fui ao
British Museum (de novo) para ver uma parte que ainda não tinha visto (o museu
é muito grande, ainda bem que tem entrada franca, dá para ir sempre e ver com
calma): o acervo referente à Grécia.
Como disse, o British é um museu de coisas,
coisas de toda parte do mundo, ainda que a proposta curatorial das diferentes
salas/acervos possa ser diferente, o discurso de “olha tudo o que conquistamos
no mundo” do Império Britânico sempre salta aos meus olhos. A sala referente ao
século das Luzes, época em que o museu foi criado, é ótimo exemplo disso.
Foto: Valéria Alencar,
Mar./2014
Sempre ouvi, desde a época da faculdade de
História, lá na década de 1990, o discurso da formação do acervo dos grandes
museus europeus ter sida a partir de exploração e saque dos territórios
conquistados, sim, eu já sabia disso. Eu mesma falava sobre isso com meus
alunos de graduação, algumas vezes com discussões acaloradas sobre se estes
países deveriam ou não devolver tais artefatos. Eu nunca consegui me decidir,
às vezes concordando com o discurso de que assim como estava tais artefatos
foram preservados, às vezes, discordando.
Porém, neste dia de mais uma ida ao BM
(carinhosamente chamarei assim), minha experiência foi um mix de surpresa,
indignação e emoção.
Surpresa porque aquilo que eu sabia na teoria,
de que o acervo era formado a partir da exploração e saque, uau!!! (pode
escrever uau num texto? mas eu não sei traduzir em palavras…) é sim, é mais do
que eu imaginava saber… O que, depois da surpresa, causou indignação: “que
absurdo, sobrou algum vaso na Grécia?”, “eles trouxeram o altar inteiro?”, “o
que sobrou na acrópole?”, daí muita emoção poder ver aquelas imagens da
cerâmica e do mármore que eu só tinha visto nos livros…
Vista da sala Greek
Vases. British Museum, London.
Foto:
Valéria Alencar, Mar./2014
Sim, é muito vaso, centenas? Não, milhares,
expostos em diversas salas, a maioria em excelente estado de conservação,
inteiros mesmo, nunca quebrados e juntados, colados. Agora, os mármores...
Foram minhas maiores surpresas, indignações e emoções.
Vista da sala Nereid
Monument. British Museum, London.
Foto: Valéria Alencar,
Mar./2014
São os famosos “Elgin Marble”. Lord Elgin foi o
conquistador, explorador que levou Atenas para o BM no início do século XIX , existe hoje em dia
uma discussão acalorada sobre o museu devolver tal acervo à Grécia, aliás,
neste mesmo dia, ao retornar para casa, no jornal do metrô, por conta do
lançamento do filme Monuments Men, tinha uma pequena nota a respeito do ator
George Clooney ter defendido a devolução dos mármores aos gregos .
Certamente, pode-se argumentar que tudo poderia
ter se perdido, a Acrópole por exemplo, foi usada pelos turcos-otomanos como
local para armazenar armas e explosivos. Mas, e o que não foi eleito digno de
salvaguarda? Sempre me lembro da explosão dos budas gigantes pelo Talibã em
2001, amplamente divulgado, chegou até causar comoção mundial. Mas, e tudo o
que foi destruído lá na época do Elgin? Ou antes? Certamente houve uma seleção,
consciente ou não, do que deveria permanecer no tempo, no museu.
Vista da sala Pathernon
Gallery. British Museum, London.
Foto:
Valéria Alencar, Mar./2014
Também, podemos dizer que o fato desses objetos
todos estarem no BM conta a história do imperialismo britânico, embora o
discurso expositivo e nem o discurso educativo apresentem esta história.
Pra terminar esta conversa, um detalhe da
Rosetta Stone, um dos objetos mais importantes do museu, segundo eles mesmos, a
Monalisa do BM. A Pedra de Roseta é historicamente considerada o objeto chave
na decifração dos hieróglifos egípcios. Existe a original, dentro de vitrine,
sempre cercada por muitos visitantes e máquinas fotográficas, e existe uma
réplica produzida no século XX, na qual é possível tocar. Ela é idêntica,
inclusive trazendo uma inscrição lateral, já não tão visível na original:
Rosetta Stone. British Museum, London.
Foto:
Valéria Alencar, Mar./2014
Abraços e até o próximo mês!
Valeria Alencar
E-mail: valstella7@gmail.com
3 comentários:
Val, a museografia do setor de vasos gregos do Metropolitan Museum de NYC é incrivelmente parecida com a do mesmo setor no British Museum.
Neto
Esse tipo de museografia, um monte de vasos em vitrines, me parece muita ostentação, olha tudo o que temos!!! sabe?
E essa é uma pequena sala, tem mais salas assim e mais vasos, ânforas, lamparinas, travessas, cerâmicas de todos os tamanhos, formas e cores, expostas as vezes de outra forma.
bj
Muito bom seu artigo. Tão bom quanto suas aulas e cheio de emoção o que, no meu entender, dá vida às palavras. Saudade.
Eneida
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