O ano de 2015 começou bem para a
Arte/Educação na América Latina, pois, já em fevereiro, o primeiro Congresso de
Educação Artística nesta parte do mundo foi muito intenso.
Aconteceu em Lima, no Peru, na Escola
Nacional de Belas Artes. Éramos cinco estrangeiros, sendo eu a única falando
outra língua, pois os outros eram da Espanha.
Duas jovens pesquisadoras que já
estiveram no Brasil, Maria Acaso e Clara Mejias foram as estrelas. Muito boas
com metodologias e discursos próprios. Além delas, o casal Juana Sancho e
Fernando Hernandez, sempre atentos ao que ocorre nos outros países. Ele defendeu
a Pedagogia do Acontecimento, fala muito bem com uma retórica bem modelada. Já
a Juana é mais apaixonada na fala.
Atelier de Maria Acaso
foto: Camilo Espejo
Atelier de Maria Acaso
foto: Camilo Espejo
Atelier de Maria Acaso
foto: Camilo Espejo
Atelier de Maria Acaso
foto: Camilo Espejo
Denis Atkinson esteve no Brasil dois
anos atrás na UNESP falando da Pedagogia do Acontecimento que é baseada em
Badiou, mas acho que não foi tão bem entendido como no Peru. Fernando é muito bom intérprete e comunicador.
De uma recente entrevista em um
jornal no Brasil podemos depreender que Badiou é Marxista, defende a ideia de
uma internacionalização positiva da revolta.
Sua filosofia é polifônica, contra sistemas fechados, defendendo um
sistema humanizado exigente que inclui as teorias matemáticas modernas e quatro
dimensões da existência: o amor, a arte, a política e a ciência. Badiou definiu
os processos políticos atuais como uma “guerra das democracias contra os
pobres”. “O filósofo francês é um teórico dos processos de ruptura e não um
mero panfletário”
O organizador desse Primeiro
Congresso de Educação Artística do Peru realizado na Escola de Belas Artes em
Lima, Prof. Mario Mogrovejo e sua equipe, nos receberam magnificamente. Destaco
dentre os organizadores e participantes Miluska Duenas Vera, Coletivo Cholo, Museu
Itinerante por la Memória, Teresa Arias, Liliana, Claudia Yupanqui,
Caterryn Mendonça, Ysabel Robalino, Miguel Garcia Nuñez (coordenador da
Licenciatura em Artes Visuales da PUC-P), Cynthia Capriata ( do Ministério de
Educação e artista), Pedro Vargas (artista e professor) e os alunos e alunas
entre as quais quero homenagear Elizabeth Cordero.
Surpreendi-me com o uso da Abordagem
Triangular que me disseram ter sido introduzida no Peru por Miriam Nemes,
professora da Escola de Belas Artes, hoje aposentada mas que tem grande
prestígio entre colegas e alunos. Infelizmente não estive com ela pois estava
viajando, mas seus ex-alunos me mimaram com presentes e passeios.
A palestra de quatro professores
intitulada "La investigation como practica en una escuela superior
de bellas artes, en un curso de taller" demonstrou o uso muito adequado e
inventivo da Abordagem Triangular (Jesus Morate, Alice Vega , Carlos Risco,
Carlos Valdez).
A idolatria em relação à Europa é, como no Brasil, visível. Para afirmar isto não há necessidade de pesquisa, mas
este é um mal que se manifesta principalmente nas Artes Visuais e, como entre
nós não é explicitado ideologicamente, se revela principalmente por um certo
desinteresse e descrença pelo que acontece nos outros países latinoamericanos.
Porém, mais que nós brasileiros, os universitários peruanos já usam uma
bibliografia latinoamericana em Arte e Arte/Educação como Ernesto Dussel, Camnitzer, Juan Acha
etc.
Muito se pode esperar do Peru para a
consolidação de políticas educacionais que valorizem a Arte na Educação.
Chile e Peru talvez tenham sido os
países Latino Americanos que mais adequadamente reprojetaram a Bauhaus em
seus próprios mundos. Estão fazendo o mesmo agora com as múltiplas
metodologias do Ensino da Arte ou do acolhimento na Arte, enfocando sua riqueza
cultural milenar ao mesmo tempo que se inserem na Transmodernidade, operando
uma mixagem (expressão usada por Maria Acaso) sem modelos fixos e
predeterminados.
Ana Mae Barbosa
Nenhum comentário:
Postar um comentário