Olá leitores do AEOL.
Hoje vou falar sobre uma das propostas expositivas, ou de
leitura, ou de mediação, ou de intervenção… (não sei como chamar ainda, vocês
podem me ajudar depois) que mais me chamou a atenção aqui em Londres, no Museum of London, uma proposta ao mesmo tempo
expositiva e educativa, uma ideia simples que, se não é possível fazer da mesma
forma, é possível adaptá-la, daí fica uma sugestão, uma dica…
No geral, as visitas e atividades com grupos escolares que pude
acompanhar aqui em Londres se assemelham muito ao que pode ser chamado: visita
palestra, uma mediação discursiva, ainda que o educador tente dialogar, é
aquela pergunta confortável, ou seja, da resposta esperada, foi assim que vi no
British Museum, na National Gallery e no próprio Museum of London, mas o que vou
apresentar aqui foi algo que vi como visitante, ainda que a mediadora e a
pesquisadora sejam parte de mim, foi na minha primeira visita a este museu, sem
saber nada a respeito, que me
surpreendi.
Vale destacar aqui que o Museum
of London foi o local onde encontrei abertura para realizar minha pesquisa
de campo, o pessoal do Learning
Department (como se chama aqui o serviço educativo dos museus) foi sempre
muito atencioso comigo.
O Museum of London, criado
na década de 1970, tem a proposta de contar a história da cidade de Londres, de
uma forma que enaltece a cidade e o Londrino, sério mesmo, ao final da minha
primeira visita lá, saí com a ideia que aqui é a melhor cidade do planeta, ou
seja, o discurso expositivo atingiu seu objetivo (rs). Existem dois prédios com
exposições, entrada franca, e um prédio com o acervo arquelógico, que também é
possível visitar, agendando e pagando, abre para grupos pequenos em visitas
temáticas, é bem bacana e não é caro, vale a pena.
Os dois espaços expositivos contam histórias diferentes da
cidade, o prédio Museum of London Docklands, é um pouco menor, fica no lado
leste, região das docas, foi pobre um dia, é a região onde Jack estripador fez
suas vítimas, aliás, tem uma visita sobre isso, bem interessante. Mas vou falar
sobre uma exposição no outro prédio, na sede do museu, no centro da cidade. A
exposição se chama “Our Londinium”. Londinium era o nome da cidade na época
do domínio romano, sim o romanos chegaram até aqui e até mais longe ao norte, o
acervo do museu sobre esta época da cidade é bem grande. A exposição em questão
foi criada com a colaboração de jovens de diversas identidades culturais, entre
14 e 24 anos, “reinterpretando o que os romanos deixaram para trás e questões
de como os londrinos de hoje podem ser iguais ou diferentes do habitante de Londinium” (texto de parede da
exposição).
Como eu vi tudo isso? Formas de leitura de objetos, os jovens que
participaram deste processo, ao meu ver, dialogaram de fato com o acervo.
Jarra, 330-420 d.C.,
encontrada em escavações no aeroporto de Heathrow.
Antigamente usada para
colocar cerveja como oferenda aos deuses, encontrada num poço abandonado.
E as
garrafas de água como reinterpretação do objeto.
Foto: Valéria Alencar,
Out./2013.
Minha leitura da vitrine como um todo, se me é permitido fazer
aqui, “deixada para trás” foi a jarra e deixadas para trás são as garrafas de
água que não podem passar no raio-x do aeroporto… Claro, essa leitura minha é
de hoje, contaminada por algumas viagens e garrafas abandonas… na época só
associei ao fato de recipientes para conter líquidos. Mas, o ponto é, os jovens
que “leram” o objeto o fizeram a partir de um referencial, a exposição me dá
mais possibilidades de leituras.
Outro exemplo:
Dado de pedra, 100-200 d.C.
Encontrado em Guy’s Hospital, Southwark.
Foto: Valéria Alencar, Out./2013.
Além da sala “Our
Londinium”, algumas intervenções, leituras de objetos ao meu olhar, foram
colocadas em outras vitrines do museu, devidamente identificadas pela cor da
legenda, como na vitrine sobre transporte:
Foto: Valéria Alencar, Out./2013.
Mais um detalhe, na legenda é posta uma questão para pensarmos
a relação passado/presente. Não sei se são as melhores questões, poderiam ser
outras talvez, de qualquer forma, são possibilidades de reflexão, como na
vitrine “Age of convenience”:
Foto: Valéria Alencar,
Out./2013
Possibilidades foi o que tirei disso tudo, possibilidades do
mesmo exercício em outros locais, esse exercício de leitura, ou de mediação, ou
de intervenção…
Valeria Alencar
E-mail: valstella7@gmail.com
4 comentários:
Jovens curadores criando diálogos, problematizações, causando estranhamentos? Garrafa de água e bilha? Dado romano e digital?
Fantástico, Val!
Daria um bom projeto em sala de aula, mesmo que com reproduções, numa visão rizomática do tempo, da cultura, das necessidades humanas.
Obrigada por partilhar!
Pois é, pensei muito nessa proposta como formas de leitura de objetos e imagens, ao invés de palavras, ou para além delas, outros objetos e imagens... é um exercício bem interessante...
Gostei muito Valéria Alencar, sou arte educadora de Dourados MS, trabalho com formação de professores na UNIGRAN no curso de Artes Visuais, é sempre enriquecedor conhecermos trabalhos que instigam novas leituras e possibilidades.
Val, gosto imensamente de pensar a história a partir do tempo presente e do espaço vivenciado. bj
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