10 dezembro 2018

ANA MAE INFORMA: NOTÍCIAS DE MOÇAMBIQUE


Ao ser convidada para o Seminário da InSEA, Building Social Cohesion through Arts Education na Namíbia, avisei que estaria na África, no começo de novembro, ao professor Lourenço Cossa de Moçambique de quem examinei uma excelente tese de Doutorado orientada por Analice Dutra Pilar na UFRGS. Ele imediatamente me convidou para dar uma palestra na Universidade Pedagógica na Escola Superior Técnica, Departamento de Desenho e Construção no qual ele é o único professor Doutor, responsabilidade enorme para meu colega moçambicano. Sei disto por experiência própria pois por quase dez anos fui a única doutora em Arte/Educação no Brasil. Depois disto nos desenvolvemos muito rapidamente graças a criação de linhas de pesquisas nas Pós-Graduações em Artes e Educação.

Os moçambicanos foram excelentes hospedeiros. Reuniram mais de duzentos professores para ouvir minha palestra que eles intitularam de Ensino da Educação Visual/Artes e formação de professores. Lá em Moçambique o nome da Disciplina de Artes no currículo do ensino Fundamental e Médio é Educação Visual. Os burocratas da educação estão querendo retira-la do Ensino Médio como o governo Temer fez no Brasil. Com eu já havia notado no Seminário da InSEA na Namíbia os homens, também em Moçambique são a maioria dos professores de Arte, diferentemente do Brasil onde esta área é maciçamente feminina.

A mesa de abertura de minha palestra foi composta de pessoas importantes na Universidade e também convidaram Sílvia Bragança, arte/educadora, professora de História da Arte e curadora. Trabalhamos juntas muitos anos no Conselho Mundial da InSEA no qual ela representava a África e eu a América Latina (1984 a 1994). Silvia é viúva de Aquino de Bragança um dos heróis libertadores de Moçambique que morreu no atentado ao Presidente Samora Machel. Aquino de Bragança era jornalista e intelectual, criador e diretor do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane. Visitei com Silvia esta Universidade onde ela iniciou em Moçambique a área de Educação Visual. Silvia é extremamente respeitada e querida por toda a intelectualidade do país que adotou, pois nasceu em Goa na Índia, em 1937.

 No dia da palestra, 6 de novembro, fui entrevistada por TV e Rádio. O auditório produziu um excelente e quase interminável diálogo depois de minha palestra. As perguntas que se seguiram eram oportunas e inteligentes, demostrando conhecimento de meus livros, especialmente da Abordagem Triangular.  São alunos, professores e artistas atualizados nas pesquisas sobre Ensino da Arte, o que lhes falta é a ampliação das estruturas institucionais e criação de mestrados e doutorados.

No dia seguinte tive um encontro com o grupo com o qual Lourenço trabalha. Estão se titulando fora do país. Mestre Rangel Manjate é um teórico complexo, designer gráfico e professor em Educação Visual, Marcos Muthewuye um escultor muito talentoso e José Hoguane, que está terminando o doutorado em Portugal, é um excelente conhecedor de políticas culturais e coordenador dinâmico de um departamento.

À tarde visitei com Lourenço as instituições Culturais de Maputo como Museus, Centros Culturais, Galerias de Arte e Centro de Artesanato, onde vi excelentes trabalhos. A Fundação Fernando Leite Couto criada em 2015 em homenagem ao poeta falecido em 2013, irmão de Mia Couto, foi talvez a visita mais agradável. Conversamos com pessoas que o estavam visitando, um artista local, um garçom conhecedor de Arte, todos entusiasmados pelo trabalho em Literatura e Artes Visuais que a Fundação faz. Naquele dia, 7 de novembro, estava sendo inaugurada uma exposição de Manuel Bata intitulada “Os sentimentos das mãos” e na noite anterior havia sido lançado um livro para crianças de Mia Couto. Em três anos a Fundação criada pela família Couto já se tornou um fator de mudança, pois vem respeitando seu lema “Fazer junto com os outros”.

Imagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Funda%C3%A7%C3%A3o_Fernando_Leite_Couto 

Vendo a ação multiplicadora de Lourenço Cossa em seu departamento reforçou-se minha convicção de que os programas de bolsas de estudos do Brasil para nossos colegas africanos são essenciais para que conheçamos as culturas uns dos outros e as reforcemos mutuamente.


Ana Mae Barbosa, especial para AEOL

3 comentários:

Vitória Amaral disse...

Parabéns Ana Mae! Agradeço imensamente essas informações vindas de Moçambique, lugares de onde poucas nos chegam. As Áfricas têm muito o que nos ensinar e o intercâmbio é sempre de grande valia para estudantes vindos de um lado e do outro! Temos que continuar resistindo com nossos desejos de nos aproximarmos, pois sei que muita sabedoria existe. O ensino da Arte precisa se expandir e para isso, é fundamental essas trocas com os países da África, assim como também com os países da América Latina. Muito obrigada pelo depoimento. Vitória Amaral.

Ana Peroba disse...

FantásticA a oportunidade de mergulhar no Universo Africano pelo seu olhar e por meio da arte-educação, muito grata pelo seu dom de educar!

Unknown disse...

Ana Mae sin fronteras por el bien de la educación y la felicidad de los chicos y jóvenes de todos los lares..abrazo desde Rosairo Argentina