Na minha prática como professor formador de arte/educadores (e outras coisas da vida pessoal, acadêmica e profissional), situações, análises e dúvidas têm gerado muitas reflexões sobre minhas próprias convicções sobre o que penso.
Na faculdade, acompanhando os estágios supervisionados de meus alunos, com algumas exceções, é possível filtrar entre suas descrições e testemunhos como a arte é vista nas escolas. Solicitei aos licenciandos que levantassem junto aos alunos das turmas dos anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) o que estes alunos sabiam sobre arte. Propositadamente não direcionei nenhuma metodologia para investigarem isso – eles tinham de criar suas próprias estratégias para captarem estas respostas.
A dúvida de Tomé, Caravaggio, c. 1600 (reprodução)
Em nossas aulas, levantamos as respostas obtidas e a maioria delas evidenciaram questões de ordem técnica (desenho, pintura, escultura, etc.) ou conteudística (história, estilos, períodos, etc.). Com o devido limite desta pequena pesquisa, chegamos à conclusão que parte destas respostas foram moldadas pelas próprias aulas de Arte que as turmas tem nas escolas. E, novamente, parte disso vem das convicções, crenças e repertórios dos professores que estão em ação. Deixo claro que é PARTE e não o todo. Também não concordo em descarregar sobre o lombo dos professores toda responsabilidade dos problemas vividos nas escolas. Porém, percebo o quão complexo é construir um repertório crítico sobre arte e cultura na formação inicial do arte/educador. É claro que a formação deve ser contínua e deverá ir além da própria graduação, mas isso também não é uma coisa fácil de ser construída.
Onde quero chegar? Pensar em arte além do território restrito das artes visuais (nem toquei na diversidade desta área de conhecimento) não é suficiente para o ensino da cultura, como prega a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (art. 26). Nem é por ser lei que cito isso, mas a justificativa que foi batalhada por muitos arte/educadores: para o ensino da cultura. Então o compromisso das aulas de arte na escola é ir além da própria fronteira das artes visuais ou teatro, ou dança, ou música, ou poesia, ou prosa, etc.
Parafraseando Ana Mae Barbosa, o ensino da arte proporcionaria um grau de reflexão crítica dos sujeitos, a ponto de selecionarmos nossos representantes e governantes com mais responsabilidade. Se os elegemos através das imagens (reais e atribuídas) que nos passam no dia-a-dia e durante as campanhas, lidar com estas leituras torna-se preponderante para a formação do cidadão. Neste caso, os arte/educadores tem uma gigantesca responsabilidade em suas mãos.
Solicitei, então, que os licenciandos fizessem uma pesquisa-reflexão: “O que é arte, para mim?”. Esta pergunta vem sendo feita a eles desde o 1º ano, por diversas disciplinas, porém estou cobrando veementemente que esta auto-reflexão realmente seja feita com profundidade.
Não postarei os resultados destas reflexões por motivos éticos, mas estas aulas também mexeram com minhas concepções. Neste caso, sugiro sempre manter nosso espírito crítico vigilante e afiado.
Guilherme Nakashato
http://www.arteducacaoproducoes.com.br/
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