27 maio 2013

ANA MAE INFORMA: SEMINARIO + ARTE EM MI COLEGIO

A minha experiência  no Chile foi educacionalmente e politicamente entusiasmante.

O Seminário + ARTE EN MI COLEGIO  durante a Semana de Educação Artística (13 a 17 de maio de 2013) foi integrado por todos os museus de Arte de Santiago com atividades para alunos das escolas publicas sob a coordenação do futuro Ministério da Cultura (hoje Coordenadoria de Cultura equivalente a Ministério).

No Museu da Memória, que visitei com Dora Aguila, (ovacionada no Seminário por seus ex alunos e que volta a ensinar na Universidade Mayor) tive uma das grandes emoções de minha vida ao conversar com duas mulheres um pouco mais jovens que eu, do norte do Chile que vieram a Santiago para visitar o MUSEU e estavam a procura da imagem e da memória de amigos mortos pela ditadura.
Me apresentaram as fotos de dois: um que foi assassinado aos 19 anos e o outro que fora governador de sua província, ambos socialistas. Nunca tinha visto ou experimentado uma mistura de emoções semelhantes: era alegria porque a memória deles permanece e renovada tristeza pela perda. No fim elas nos disseram: não podemos deixar esquecer.
O Chile está se recuperando sem esquecer. O MAC que há 15 anos era um pobre Museu que não tinha nada de contemporâneo é hoje ativo e relevante com educadores teoricamente sofisticados e praticamente engajados.

Museo de Arte Contemporáneo
Santiago/Chile
en.wikipedia.org

Pablo Rojas Duran (Jefe Sección Educación Artística y Cultura do Departamento de Ciudadanía y Cultura) e sua equipe foram os idealizadores e responsáveis pelo Seminário e estão dirigindo vários projetos muito interessantes. Pablo Rojas  lançou no Seminário o livro 12 Praticas de Educação Artística no Chile (acréscimo da editoria AEP online: disponível aqui), muito bem produzido. O TeatroMunicipal tem vasto programa anual para crianças com educadores bem preparados.

Além disto o Artequin,  um museu de educação artística que só tinha reproduções de obras de Arte Europeia vai inaugurar uma ala de Arte Chilena. Tenho grande respeito por este museu porque ele realiza a teoria de Benjamin e desconstrói a aura da obra única. É o único museu no Chile, de acordo com o livro de Ricard Huerta, que respeita e dialoga com as escolas. Exatamente porque  despiu-se do poder da aura da obra única tão valorizada pela burguesia.
Em uma das mesas do Seminário o Ministério da Educação e de Cultura apresentaram seus programas. O diálogo entre estes dois poderes parece uma tendência na América do Sul pois no Brasil os dois juntos instituíram o Programa Mais Cultura. Tomara que a moda pegue.
Luis Errázuriz, antigo companheiro do CM da INSEA falou sobre Estética e Cultura Visual num enfoque político e não celebrando o capitalismo como vem se fazendo em algumas universidades no Brasil, felizmente poucas, as que  não desconfiam que estão manejando ideias fora do lugar, como diz Roberto Schwarz*.
No Brasil todos os Arte Educadores já incorporaram a Cultura Visual contra hegemônica e não poderia ser de outra maneira, somos um país pop, mais pop ainda que os USA pois temos o Carnaval e ainda não matamos a cultura do povo. Uma surpresa me esperava em Puerto Varas, Região dos Lagos. Trata-se do trabalho em teatro do arte/educador Fernando Diaz que também celebrou a Semana de Educação Artística fazendo com que os alunos de Artes dessem aulas nas escolas públicas. Seu livro Teatro Social no Chile é muito bom e nunca imaginei que as zonas do trabalho duro nas  salitreras no Chile  tivessem sido humanizadas pelo teatro/educação desde os primeiros anos do século XX.
Volto do Chile entusiasmada com nossa América do Sul mas com medo, medo do canto da sereia do neocolonialismo de outros países, medo de quem já sofreu em uma ditadura e medo muito próximo de que "as industrias criativas" por decisões dos governos que querem disfarçar o desemprego,  substituam as Artes na Educação.
É possível uma convivência profícua entre ambas: indústria criativa e Arte, mas substituição da Arte na Educação, nunca. 'Arte é a produção mais relevante do ser humano' não é utilidade doméstica, é experiência que contribui para o desenvolvimento pessoal e coletivo.
O contato que tive em Santiago com os poetas, músicos e artistas plásticos do  grupo Casagrande foi uma epifania. Eles estão bombardeando com poemas as cidades que foram bombardeadas pelas guerras como Guernica, Varsóvia, Berlim e Londres. Vejam no youtube o bombardeio de Londres. Algo excepcional.
 

Uma esperança coletiva.
Um abraço,
Ana Mae

* Schwarz, Roberto. Misplaced Ideas: Essays on Brazilian Culture (Critical Studies in Latin American Culture). Vale a pena ler. (disponível aqui)

http://www.arteducacaoproducoes.com.br/

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