imagem: site NAeA
Ana Mae Barbosa esteve presente e nos informa o que aconteceu. Leia:
Por três anos me foi impossível ir aos congressos anuais da National Art Education Association dos Estados Unidos, maior organização de arte/educação do mundo com mais de catorze mil associados.
No congresso deste ano havia seis mil participantes e voltar a frequentar a NAEA foi uma grande experiência.
Recebi convite de Jerome Haussman para participar de sua mesa The Next Revolution in Art Education no Forum dos Distinguished Fellows. Como sou a única estrangeira que não vive nos Estados Unidos com a grande honra de Distinguished Fellow conferida não pude recusar este convite, embora estivesse voltando de um curso na Universidade de Girona.
Discuti com os alunos do mestrado em Girona qual seria a revolução em arte/educação que deveríamos apoiar, discussão que antes realizei com alunos do mestrado em Design, Arte, Moda e Tecnologia da Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo.
Enviei esta mesma pergunta para dez arte/educadores internacionais que estão no topo de suas carreiras.
Os alunos de Girona foram quase unânimes acerca da necessidade de apoiarmos valores voltados para a justiça social, a criação e a ética.
Os alunos brasileiros também foram quase unânimes no apoio a uma revolução voltada para a ecologia humana, ecologia da natureza, ecologia do conhecimento, ecologia do meio ambiente construído e ecologia da economia.
Quanto aos especialistas, as respostas foram tão diversificadas que não dá para chegar ao mínimo denominador comum. As mais veementes respostas falaram do feminismo e da e-arte/educação, ou da arte/educação tecnológica.
Destas variáveis falei ao público da NAEA. Dei contas ao público presente do que estamos fazendo no Brasil em relação à ecologia no Ensino da Arte e do Design. Há cinco anos - devido a compromissos profissionais - venho pesquisando e ensinando intersecções entre arte e design mesmo antes deste tópico se transformar em foco de interesse na arte/educação.
As mesas sobre Art and Design Education que ocorreram nesta edição da NAEA foram as mais concorridas. Cultura Visual não é mais tão discutível porque já está assimilada pela arte/educação americana, pois seus estudos foram integrativos com respeito à história e àqueles que faziam cultura visual antes da Cultura Visual ter este nome.
Desde os primórdios do modernismo houveram arte/educadores americanos como Belle Boas (anos vinte na Columbia University) integrando diferentes meios produtores de imagens ao Ensino da Arte que estenderam o campo de sentido artístico para a Antropologia e para os Meios de Comunicação.
A grande preocupação agora é com Arte e Design na Educação. Deste tema falaram Kerry Freedman, Mary Ann Stankiewicz e Robin Vande Zander. Foi uma mesa excelente que começou com a História do Ensino da Arte e do Design na Escola Normal de Massachusetts (hoje Massachusetts College of Art) onde fiz uma disciplina durante meu doutorado. Falaram que Walter Smith influenciou o mundo todo no inicio do século XX da Nova Zelândia ao Brasil.
Foi analisada também a Revista School Arts por Robin Zander e demonstrado que a preocupação com o design sempre esteve subjacente ao ensino da arte nos Estados Unidos.
A frase com a qual Kerry Freedman - a grande dama da Cultura Visual - terminou sua fala ecoou por todo o Congresso também nos outros dias: “Art and Design Education is Visual Culture”.
Para os “já era” - isto é, aqueles que só ensinam novidades a seus alunos sem considerações de valores, sem contextualizações e sem história - é bom saber que Cultura Visual não é mais novidade.
Arte e Design Education vem sendo defendida com grande ênfase na África do Sul. Há dois anos em um congresso sobre design, um professor Sul Africano disse que em sua universidade o número de professores de Design Education era quase o triplo do número de professores de outras áreas do design.
Quando perguntei por que, ele respondeu que era política do governo. Portanto, a nova onda em direção ao Ensino da Arte e do Design não recomeçou nos países ricos, mas em um país em desenvolvimento. A crise está obrigando os paises ricos a reverem suas posições.
Uma das linhas fortes nos Estados Unidos em Art and Design Education é o Design Thinking e tem Martin Rayala como adepto. Ele presidiu uma mesa também muito boa e acredita que pesquisa, experimentação e prototipagem são processos criadores aplicáveis à toda e qualquer produção humana.
Mas isto é assunto para outro artigo no qual se possa discutir mais largamente as pressões do capitalismo sobre a educação, o que faz dos arte/educadores norte americanos “to follow the money” e o resto do mundo os seguirem. Na história recente, o dinheiro da Getty (ESSO) produziu uma revolução no Ensino da Arte ao dar ênfase ao entendimento da Arte, a imagem na sala de aula e ao DBAE (Disciplined Based Art Education).
Um rico colecionador - Paul Getty - ao legar sua coleção ao público precisava ser valorizado e foi necessário que todos entendessem seu legado, daí a ênfase na História da Arte, na Estética e na Crítica de Arte. Não foi de todo mal, pois ficou a importância de se ler imagens nas aulas de Arte.
No fim dos anos noventa um encontro nos headquarters da IBM reuniu cem arte/educadores top no mundo para ouvir executivos das grandes corporações de entretenimento indicarem qual tipo de criadores precisavam na indústria cultural.
Havia mercado mas não haviam produtos suficientes para vender. Assim surgiu a ênfase na Cultura Visual que talvez não tenha surtido o efeito pretendido pelos executivos do entretenimento planejaram, ao resultar positivamente pela ampliação do campo de sentido da Arte.
E agora: A que veio o Design Thinking neste momento de crise econômica/capitalista?
Ana Mae Barbosa em Seatle, especial para AEOL
http://www.arteducacaoproducoes.com.br/
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