15 junho 2010

II CONFERÊNCIA MUNDIAL DA UNESCO SOBRE ARTES NA EDUCAÇÃO

Ocorrida entre 25 e 28 de maio de 2010 em Seul.

Por Ana Mae Barbosa

Havia enorme expectativa entre os especialistas em Arte/Educação de todo o mundo para saber os resultados da implementação do Road Map para Arte/Educação lançado em 2006 na primeira Conferência sobre Artes na Educação da UNESCO em Portugal, mas a conferencia da Coréia foi uma série de frustrações.

Esperava-se pelo menos 2.000 participantes de 193 países de acordo com as declarações do Presidente da Conferencia publicadas nos anais. Apareceram apenas 800 participantes de 129 paises. A pesquisa mais clara sobre a implementação foi feita por Emily Akuno, educadora musical do Kenia. Mostrou quão longe estão as escolas do Kenia de alcançar os objetivos do Road Map. Esta fala foi mal recebida pelo coordenador da mesa que agradeceu a colaboração das impressões pessoais de Emily, desqualificando a pesquisa da professora.

Dominaram os discursos pomposos, sem pé na realidade ou auto louvações. Infelizmente parece que a Educação para as Artes esta se tornando vitrine política para a UNESCO que tem extraordinários trabalhos no campo da preservação de monumentos históricos.

Depois do Congresso fui conhecer o Angkor Wat no Camboja. É bastante claro que os mais de 290 templos de Siem Reap não teriam sobrevivido às guerras se não fosse a UNESCO.

Angkor Wat  (Imagem: http://pt.wikipedia.org/)

Contudo, os discursos sobre Arte/Educação neste congresso foram do vazio à hipocrisia passando pelo conservadorismo. Manobras de guerra estavam sendo realizadas pela Coréia do Sul nas fronteiras com a Coréia do Norte e no Congresso um grande tema foi reconciliação, sem se falar de política nem de longe.

Na mesa em que falei parece que juntaram os poucos casos de trabalhos concretos de Design e Moda, mas a moça de Taiwan que falou dos espaços de Arte criados pela Moda começou mostrando seu crachá que não tinha o nome do seu país por que a UNESCO não reconhece Taiwan.

Ninguém tocou no assunto depois dela, nem a coordenadora da mesa. Como fui a última a falar, não só me solidarizei com ela pela exclusão mas também mostrei que é possível driblar a exclusão pois o fiz quando fui Presidente da InSEA e a UNESCO quis evitar um Congresso em Taiwan. Não só fizemos o Congresso, mas quatro anos depois foi eleita presidente da InSEA uma scholar de Taiwan, Ann Kuo, que tive o prazer de trazer ao Brasil em 1996.

Nunca vi um Congresso tão hierarquizado. Havia almoços exclusivos para poucos. No congresso de Portugal foi tudo mais democrático, havia deliciosos almoços para todos os participantes sem distinção de classe. Fui ao almoço exclusivo do primeiro dia, cercado de seguranças e me espantei com a intriga política, pessoas cortejando figurões, arte/educadores cortejando especialmente políticos, sem perceber que a maioria dos que estão lá perderam poder em seus países e lhes foi dado um lugar na UNESCO para acomodá-los. Aliás, na Coréia parece ser uma pratica comum, presentear políticos sem poder com cargos culturais.

Fomos visitar o Museu de Arte Contemporânea que eu conheci muito mais vital há quinze anos atrás na minha primeira ida à Coréia. O diretor nos recebeu se apresentando como ex-ministro da Economia e fez um sumario irônico e desqualificante da Arte moderna na Coréia. Começou dizendo que o modernismo na Coréia foi imitação do impressionismo do Japão onde todo mundo de repente virou impressionista. Depois, afirmou o diretor, veio a mania de Yves Klein. -Vocês vão ver muitos Yves Kleins lá em cima na exposição. Por fim veio o discurso de protesto, disse ele, e agora vocês vão ver o que é.

Felizmente não ousou definir a Arte de hoje na Coréia, mas também fez pouco de Nam June Paik que tem no museu uma instalação fabulosa de quase dois mil monitores com mais de um milhão de imagens. Disse que ele só muda de empresa patrocinadora e que dizem que é coreano , mas vive no exterior .Uma mesquinharia terrível. Eu vivo há 44 anos em São Paulo, mas não deixei de ser do Recife.

Fiquei imaginando que aquele homem deve ser badalado pelo mundo da Arte como vi arte/educadores badalando os políticos da UNESCO e ele deve detestar Arte. Ramon Cabrera de Cuba e eu tivemos vários acessos de riso com a fala do diretor.

Infelizmente passei mal no dia da palestra de Ramon Cabrera. Deve ter sido muito boa, pois entusiasmou os profissionais da Arte/Educação e não aos políticos, a quem Cabrera não prestou reverências, ficou na dele, como se diz por aqui.

O Brasil mandou como representante do Ministério da Educação, uma educadora muito atenta e participativa e não alguém que esta no ministério por cota de partido. Lá estava o Presidente da IDEA(International Drama Education Association) que vive no Brasil. Um professor universitário do Rio que trabalha com teatro e comunidade desde o tempo do Boal foi a melhor fala sobre o Brasil. Também do Brasil estavam uma professora universitária de música vice presidente de uma associação que tem lugar na sede da Unesco e Tânia Callegaro, que trabalha com novas tecnologias na Arte/Educação.

Éramos muito poucos, mas relatei na sala da América Latina e Caribe o problema de São Paulo, Estado pioneiro na formação de professores e pesquisadores em Arte/Educação através de Mestrado e Doutorado, que entretanto baixou uma resolução retirando da educação de adultos os professores de Arte. Arte é ensinada no EJA (Educação de Jovens e Adultos) pelos professores de língua, especialmente pelos de língua estrangeira que teem poucas horas de aula.

Não sei se a UNESCO ajudará no caso, mas levaram a sério a denúncia e nas conclusões da Conferência consta a necessidade de assegurar o acesso à Arte/Educação aos aprendizes adultos.

A próxima Conferência será na Colômbia que tem feito excelentes congressos, democráticos e geradores de boas idéias e praticas.


Ana Mae Barbosa, especial para arteducação online
http://www.arteducacaoproducoes.com.br/
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