27 novembro 2012

ANA MAE INFORMA: CLEA - CONSELHO LATINOAMERICANO DE EDUCAÇÃO PELA ARTE

O último encontro aconteceu em Neiva na Colômbia entre 13 e 16 de novembro.

Confira relato enviado por Ana Mae Barbosa ao AEOL:

reprodução

CLEA

Em 1984 no Congresso Mundial da International Society of Education through Art ,INSEA, realizado no Rio de Janeiro, pela mulher do então Governador do Rio de Janeiro, muitos conflitos surgiram mas algo de sólido foi criado para que a busca pela integração latino americana se fizesse em outras bases, não por força militar, por ditaduras das quais começávamos a nos ver livres ou governos autoritários.

Este algo sólido foi o CLEA. Não sei de quem foi a ideia, mas uma tarde quase no  fim do Congresso Bryan Alisson, então Presidente da INSEA, prestes a passar o cargo para Marie Françoise Chavanne da França, me procurou e disse que precisava de minha presença numa reunião para criar a representação da INSEA na América Latina. Eu andava por lá muito raivosa pois a Presidente do Congresso havia impedido o lançamento de meu livro Arte/Educação:conflitos e acertos no recinto do Congresso.

Lancei-o em uma Galeria da UERJ ao lado do prédio onde o Congresso acontecia porque Sol Garçon, coordenadora de educação artística, resolveu desafiar a mulher do governador. Ela acreditou na autonomia universitária e me disse que a presidente do Congresso só tinha poder sobre o prédio cedido a ela, mas que nem ela, nem o governador seu marido mandavam na universidade cuja autoridade máxima  era o reitor.
Entrei na sala meio assustada e lá estavam Victor Kon da Argentina; Dora Aguila e Luís Errazuriz do Chile; Myriam Nemes de Montiel e Manuel Pantigoso do Peru; Salomon Azar do Uruguai e Olga Blinder do Paraguai. Deste grupo criador do CLEA somente uma pessoa, muito querida não está mais entre nós: Olga Blinder, artista, professora e um ser humano inolvidável. Para ela minhas homenagens e minhas saudades.

A intenção desde o início era ampliar o grupo e incluir todos os países Latino Americanos. Com o passar do tempo tivemos José Gonzalez Peres representando a Venezuela, depois representada por Hilda Guerra Arias, que aos poucos foram se desligando. Logo depois fizemos duas conquistas importantíssimas para o CLEA, Olga Lucia Olaia da Colômbia e Ramon Cabrera de Cuba.

Por último, mas com força total chegaram ao CLEA Lúcia Pimentel e Fabio Rodrigues do Brasil que havia sido representado no passado no Brasil por Ivone Richter e Laís Aderne.
Os Congressos organizados por Dora Aguila em Santiago; Salomon Azar em Montevideu; Victor Kon em Buenos Aires;  Jose González Peres em Caracas; Manuel Pantigoso em Lima; Olga Blinder em Assunção; Olga Olaia em  Bogotá e Medelin e o seminário de Amanda Pacotti em Rosario, Argentina foram ocasiões de expansão e de integração. Saímos do Congresso do CLEA organizado em 2009 na UFMG por Lucia Pimentel  com um CLEA mais amplo e do Seminário/Oficina em Neiva em novembro de 2012 maiores ainda. É nosso sonho que o CLEA  abarque todos os países da América Latina e que se amplie também o número de membros do CLEA nos países em que já está implantado. 

Em Neiva a FAEB do Brasil foi representada no CLEA por Fabio Rodrigues, Lucia Pimentel estando presente Ana Mae Barbosa membro vitalício como o são os criadores de 84. Incorporaram-se ao CLEA, a Guatemala representada por Ethel  Batres, o México representado por Mario Mendez e Benjamin Sierra e mais um membro da Colômbia, Rocio  Polania que com  Ramon Cabrera na liderança organizou o evento de maneira exemplar. Agora que temos a Bienal do Mercosul e a OEI empenhadas na ampliação do alcance social da educação artística, arte/educação ou educação pela Arte, o CLEA por ser composto de realizadores ou militantes de Associações Nacionais e não de representantes governamentais, muito poderá fazer pelo desenvolvimento da consciência artística,  estética, cultural e social de nossa América Latina.

A união Latino Americana  já era o desejo dos reformadores de nossa educação nas décadas de 20 e 30, mas foram atropelados pela ditadura do Estado Novo. Fernando de Azevedo entre 1927e 1930, como Diretor da Instrução Pública do Distrito Federal, o equivalente a Ministro da Educação, estabeleceu com a ajuda de Cecília Meireles em sua página sobre Educação no Diário de Notícias, uma política de integração Latino Americana jamais vista no Brasil. Às escolas que inaugurava e foram muitas, dava nome de países Latino Americanos, convidava seus presidentes para a inauguração e estabelecia  contínuo intercambio. A melhor avaliação da Reforma Fernando de Azevedo foi feita em jornais europeus por Gerardo Seguell, chileno, poeta do grupo de Neruda, professor de Desenho, e autor de um livro sobre Desenho Infantil. A exemplo de nossos antepassados de 80 anos atrás precisamos nos conhecer melhor e nos estimularmos  uns aos outros.

P.S.: Leia amanhã aqui no AEOL a "Carta de Neiva" que resultou desse encontro.


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