Confira relato enviado por Ana Mae Barbosa ao AEOL:
reprodução
CLEA
Em
1984 no Congresso Mundial da International Society of Education through Art ,INSEA,
realizado no Rio de Janeiro, pela mulher do então Governador do Rio de
Janeiro, muitos conflitos surgiram mas algo de sólido foi criado para que a
busca pela integração latino americana se fizesse em outras bases, não por
força militar, por ditaduras das quais começávamos a nos ver livres ou
governos autoritários.
Este
algo sólido foi o CLEA. Não sei de quem foi a ideia, mas uma tarde quase no fim do Congresso Bryan Alisson, então
Presidente da INSEA, prestes a passar o cargo para Marie Françoise Chavanne da
França, me procurou e disse que precisava de minha presença numa reunião para
criar a representação da INSEA na América Latina. Eu andava por lá muito raivosa
pois a Presidente do Congresso havia impedido o lançamento de meu livro
Arte/Educação:conflitos e acertos no recinto do Congresso.
Lancei-o
em uma Galeria
da UERJ ao lado do prédio onde o Congresso acontecia porque Sol Garçon,
coordenadora de educação artística, resolveu desafiar a mulher do governador. Ela
acreditou na autonomia universitária e me disse que a presidente do Congresso
só tinha poder sobre o prédio cedido a ela, mas que nem ela, nem o governador
seu marido mandavam na universidade cuja autoridade máxima era o reitor.
Entrei
na sala meio assustada e lá estavam Victor Kon da Argentina; Dora Aguila e Luís
Errazuriz do Chile; Myriam Nemes de Montiel e Manuel Pantigoso do Peru;
Salomon Azar do Uruguai e Olga Blinder do Paraguai. Deste grupo criador do CLEA
somente uma pessoa, muito querida não está mais entre nós: Olga Blinder,
artista, professora e um ser humano inolvidável. Para ela minhas homenagens e
minhas saudades.
A
intenção desde o início era ampliar o grupo e incluir todos os países Latino
Americanos. Com o passar do tempo tivemos José Gonzalez Peres representando a
Venezuela, depois representada por Hilda Guerra Arias, que aos poucos foram se
desligando. Logo depois fizemos duas conquistas importantíssimas para o CLEA, Olga
Lucia Olaia da Colômbia e Ramon Cabrera de Cuba.
Por
último, mas com força total chegaram ao CLEA Lúcia Pimentel e Fabio Rodrigues do
Brasil que havia sido representado no passado no Brasil por Ivone Richter e
Laís Aderne.
Os
Congressos organizados por Dora Aguila em Santiago; Salomon Azar em Montevideu;
Victor Kon em Buenos
Aires ; Jose González
Peres em Caracas; Manuel Pantigoso em Lima; Olga Blinder em Assunção; Olga
Olaia em Bogotá e Medelin e o seminário
de Amanda Pacotti em Rosario, Argentina foram ocasiões de expansão e de
integração. Saímos do Congresso do CLEA organizado em 2009 na UFMG por Lucia
Pimentel com um CLEA mais amplo e do Seminário/Oficina
em Neiva em novembro de 2012 maiores ainda. É nosso sonho que o CLEA abarque todos os países da América Latina e
que se amplie também o número de membros do CLEA nos países em que já está
implantado.
Em Neiva a FAEB do Brasil foi representada no CLEA por Fabio Rodrigues,
Lucia Pimentel estando presente Ana Mae Barbosa membro vitalício como o são os
criadores de 84. Incorporaram-se ao CLEA, a Guatemala representada por
Ethel Batres, o México representado por
Mario Mendez e Benjamin Sierra e mais um
membro da Colômbia, Rocio Polania que
com Ramon Cabrera na liderança organizou
o evento de maneira exemplar. Agora que temos a Bienal do Mercosul e a OEI
empenhadas na ampliação do alcance social da educação artística, arte/educação
ou educação pela Arte, o CLEA por ser composto de realizadores ou militantes
de Associações Nacionais e não de representantes governamentais, muito poderá
fazer pelo desenvolvimento da consciência artística, estética, cultural e social de nossa América Latina.
A
união Latino Americana já era o desejo
dos reformadores de nossa educação nas décadas de 20 e 30, mas foram atropelados
pela ditadura do Estado Novo. Fernando de Azevedo entre 1927e 1930, como
Diretor da Instrução Pública do Distrito Federal, o equivalente a Ministro da
Educação, estabeleceu com a ajuda de Cecília Meireles em sua página sobre
Educação no Diário de Notícias, uma política de integração Latino Americana
jamais vista no Brasil. Às escolas que inaugurava e foram muitas, dava nome de
países Latino Americanos, convidava seus presidentes para a inauguração e
estabelecia contínuo intercambio. A
melhor avaliação da Reforma Fernando de Azevedo foi feita em jornais europeus
por Gerardo Seguell, chileno, poeta do grupo de Neruda, professor de Desenho,
e autor de um livro sobre Desenho Infantil. A exemplo de nossos antepassados de
80 anos atrás precisamos nos conhecer melhor e nos estimularmos uns aos outros.
P.S.: Leia amanhã aqui no AEOL a "Carta de Neiva" que resultou desse encontro.
http://www.arteducacaoproducoes.com.br/
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